segunda-feira, 26 de março de 2018

Comissão Técnica Independente contraria relatórios alegados pelo ministro da Agricultura


Analisado o Relatório de Avaliação aos Incêndios ocorridos entre 14 e 16 de outubro de 2017 em Portugal Continental, elaborado pela Comissão Técnica Independente (CTI2), criada pela Assembleia da República, constata-se que o mesmo vem contrariar os relatórios que o ministro da Agricultura alegou ter na sua posse sobre a gestão da Mata Nacional de Leiria.

A 18 de outubro de 2017, após o incêndio que destruiu 86% da Mata Nacional de Leiria, o ministro da Agricultara afirmou à Imprensa dispor de informação que dava como realizada a gestão de combustível de forma tecnicamente adequada nesta área do Património do Estado. Todavia, a CTI2 veio agora contrariar a informação que o ministro alega, demonstrando a débil situação a que era votada aquela área pública.

A Acréscimo, em visita técnica realizada a 22 de outubro, havia já constatado situações que apontavam para uma situação de abandono quase generalizado, seja na área vitimada pelo incêndio desse mês, mas também na área que restou fora do polígono abrangido por este.


Face à importância ambiental, social e económica das Matas Nacionais, em concreto da Mata Nacional de Leiria, a Acréscimo tem vindo a manifestar a sua preocupação face a eventual privatização, concessão ou municipalização, no todo ou em parte, do Património Florestal do Estado. Portugal regista a menor área florestal pública dos 28 Estados Membros da União Europeia, ocupando uma das primeiras posições com menor área florestal pública a nível mundial. Importa registar que a Lei de Bases da Política Florestal (Lei n.º 33/96, de 17 de agosto) dispõe que compete ao Estado a ampliação do património florestal público (alínea c) do Art.º 8.º), facto que, passados quase 22 anos, ainda não se registou.

A Acréscimo realizará nova visita técnica para averiguar dos avanços registados desde outubro de 2017, em concreto no que respeita à gestão de combustível, quer na rede primaria, quer na secundária, mas também no interior dos talhões arborizados não afetados pelo incêndio de 2017. Pretende ainda averiguar sobre os avanços na retirada da madeira ardida, sobretudo a de maior valor comercial, passados cinco meses, já com elevado risco de depreciação. Por fim, estando em época propícia a ações de recuperação de área ardida, pretende-se avaliar dos esforços e do modelo subjacentes a essa recuperação.

Eventualmente ao contrário de outras entidades cívicas, a Acréscimo, tal como o público em geral, desconhece o teor do Plano deIntervenção nas Matas Públicas e Perímetros Florestais que estão sob a gestão do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Este não está disponível no Portal do Governo, nem no Portal do ICNF. Em todo o caso, a Lei de Bases dispõe ser do interesse público a exploração, conservação, reconversão e expansão da floresta, mais ainda a que se insere no Património do Estado.


quinta-feira, 15 de março de 2018

É patética a estratégia florestal do Governo


A legitimidade não se conquista pela força da letra da lei ou pela intervenção de forças paramilitares. Essa foi a estratégia de outros tempos, parece ser a atual. A legitimidade conquista-se pelo exemplo, em concreto ao nível da gestão do Património do Estado, das Matas Públicas. Essa foi a estratégia de outros tempos, não é a atual.

A produção de legislação à última da hora, o desenvolvimento de uma desastrosa campanha mediática, a ameaça de intervenção da força paramilitar, com um pedido final de tolerância à fiscalização da lei, só pode ser o resultado de uma estratégia patética de prevenção de incêndios.

Patético é o conflito movido pelo Governo a proprietários privados e a Autarquias pelo laxismo, de décadas, em matéria de prevenção de incêndios. Neste domínio, o da prevenção dos incêndios em floresta, os Governos deram como exemplo o laxismo. Este foi evidente antes de novembro de 2015, bem como após essa data. Foi evidente antes de 15 de outubro de 2017, como o é em março de 2018. A gestão e a prevenção de incêndios florestais no Património do Estado, nas Matas Públicos, é um gritante exemplo do laxismo governamental.

Patético é trazer a Portugal especialistas estrangeiros para afirmar o que especialistas nacionais dizem há décadas, que no território alastram espécies altamente inflamáveis e que as populações estão em risco. Todavia, o atual Governo tem sido conivente com esse alastramento, seja pela certificação record de 40 milhões de plantas de eucalipto para comercialização, seja pela ausência de combate à expansão das “primas” australianas do eucalipto. Se as populações estão em risco, esse risco é evidente nas áreas adjacentes a Matas Nacionais. O exemplo de S. Pedro de Moel é disso evidente, circundado que está por um débil pinhal sufocado por acácias, de elevadíssima inflamabilidade.

Patéticas são as ações mediáticas de plantação de sobreiros na Mata Nacional de Leiria, em solos arenosos e com forte influência de ventos oceânicos. Por alguma razão o Pinhal é pinhal. Tal como domina o pinhal em solos arenosos mais a sul. Não que o sobreiro não possa ter lugar na Mata Nacional de Leiria, mas os problemas pós-incêndio desta, como de outras Matas e Perímetros Florestais, vão muito para além da plantação mediática de sobreiros, ou de outras quercíneas.

Patético é o apoio do ICNF a ações casuísticas de plantações em Património do Estado. Mais do que de ações de reflorestação, as Matas Nacionais têm urgência de ações de controlo de espécies invasoras. Os talhões de pinhal que não arderam a 15 de outubro em Leiria estão a ser sufocados por acácias. O risco de arderem nos próximos tempos é elevadíssimo. Depois, só haverá acacial.


Patética é a produção, ao longo de meses, de rolos de papel em forma de planos de intervenção, quando as Matas carecem de urgente ação. O Governo aposta numa estratégia de “encher chouriço”. O apodrecimento e depreciação da madeira ardida é um escândalo.

Com efeito, quando não se é capaz de ir além de uma patética estratégia, há que responsabilizar terceiros dos mesmos vícios da governação.


terça-feira, 6 de março de 2018

Para as florestas o Governo tem duas caras


Se uma evidencia dendrofobia, a outra dissemina uma epidemia pelo território.
Parece continuar assegurada a dependência do Executivo face à lenhicultura.

Se por um lado, o Governo quer fazer crer às populações que meia dúzia de metros, face às árvores, as coloca em segurança, tendo desenvolvido para o efeito uma campanha mediática de dendrofobia. Por outro, o Executivo assegurou a expansão da área da lenhicultura de eucalipto, pelo menos, até ao final da Legislatura. Nunca se produziram tantas plantas de eucalipto em viveiro como atualmente: 40 milhões de plantas de eucalipto estão certificadas para comercialização.

Com efeito, meia dúzia de metros de limpeza de faixas de gestão de combustível nada representa face a manchas contínuas de arvoredo facilmente inflamável. Se não for o fogo, será o fumo a causar vítimas. Se as coberturas dos edifícios não estiverem adequadamente protegidas, serão as projeções a provocar a sua destruição. Faixas de 10 a 100 metros de deserto arbóreo não fazem frente a projeções que podem atingir vários quilómetros.

Apesar da febre de dendrofobia que o Governo fez instalar, prossegue a expansão da área de plantações de eucalipto, sem fiscalização, nem rastreio de plantas saídas dos viveiros, nem avaliação financeira das ações de arborização e de rearborização com esta espécie inflamável e de rápido crescimento. Acresce que, uma vez instalada, se forem quebradas as expetativas do negócio, o risco de abandono é elevado. Não é qualquer outro investimento que suporta o custo de remoção de um eucaliptal. Em situação de abandono, tende a gerar ciclos intermináveis de incêndios.


Apesar dos acontecimentos de 2016 e 2017, de crescente envolvimento do eucaliptal na área ardida, o Governo continua a permitir o aumento da capacidade da industria papeleira, em particular na região Centro. Através do Orçamento continua a apoiar a expansão industrial.

Pior, o Executivo tem em apreciação a expansão do eucaliptal em regadio e para o sector energético, na região de Lisboa e Vale do Tejo. Apesar do aumento do risco de conflito mundial e das consequências na distribuição de produtos alimentares, parece que o Governo estuda a possibilidade de reconversão de solos agrícolas, de regadio, para a produção de eucaliptal intensivo. Apesar da crescente contestação, na Europa, à reconversão das centrais a carvão para a queima de madeira, num retrocesso a 1850, o Governo antevê a possibilidade da reconversão da central a carvão do Pego. A acontecer terá forte impacto na Reserva Agrícola Nacional e na disponibilidade de água na bacia hidrográfica do Tejo.

Manchas continuas de arvoredo facilmente inflamável em clima cada vez mais seco, mais quente e mais ventoso, não fazem prever diminuição do risco de incêndios. Nada mudou após 2017! Só se evidencia um foguetório de dendrofobia sem consequências que não o imediatismo na perseguição a populações rurais envelhecidas. Presa fácil!